terça-feira, 14 de julho de 2009

ÍNDIOS ISOLADOS: UM MISTÉRIO NA AMAZÔNIA

A selva amazônica tem sido palco de muitos mistérios. Nesse cenário, permeia um grande repertório de mitos e lendas que transmitidos de geração em geração e até mesmo fazendo parte da literatura regional impressionam a sociedade nacional e internacional. O folclore regional é enriquecido pela mitologia da Cobra Grande, do Jurupari, do Boto e muitos outros. Esse clima de mistério continua nos ares, principalmente, quando se trata dos interesses de pessoas e entidades de outros países pela Amazônia e a atitude passiva do governo brasileiro diante desses acontecimentos, como tem sido fartamente divulgado nos meios de comunicação.
Atualmente, um grande mistério detectado pelo povo santareno, refere-se aos índios Zo’é que vivem entre os rios Cuminapanema e Erepecuru nos municípios de Óbidos e Alenquer no Oeste do Pará e contatados na década de 1980. Esses índios, segundo informações que circulam de boca em boca nesta cidade e nos meios de comunicação, mesmo depois de 20 anos de contato com a sociedade nacional e, principalmente, com a internacional (que os visitam constantemente), continuam sendo mantidos no status de isolados pelo Departamento de Índios Isolados da Funai. E, sendo que essa etnia não se encaixa mais nessa categoria, como prescreve o Estatuto do Índio, foi criada na reserva indígena algo chamado de Frente de Proteção Etno-ambiental, que se tornou mais um enigma a ser decifrado.
O mistério se dá pelo fato de que em todas as matérias jornalísticas feitas nos últimos anos sobre esse povo, somente mostram os índios vivendo “na idade da pedra”, insinuando que estão felizes nesse estado de extremo primitivismo. Embora o trabalho da Frente seja enaltecido, nunca é apresentada à sociedade brasileira a estrutura montada no local para atendê-los e nem as parcerias firmadas para a execução desse projeto. Inclusive, algumas pessoas que ali atuam ou atuaram nos últimos anos, quando procuradas por repórteres da cidade disseram que não podem falar sobre o que acontece lá dentro.
Contudo, em “O Liberal” de setembro de 2006 foi notificado que a Frente Etno-ambiental Cuminapanema concorria ao prêmio de Super-Ecologia promovido pela revista “Superinteressante” e que os Zo’é fizeram a inscrição por telefone via satélite. Também Paulo Lima, em matéria publicada na revista “Fórum” Edição 63 - junho de 2008, deixou escapar que “A Frente tem um cuidado paisagístico impressionante. O João Lobato e sua equipe fizeram, ao longo desse tempo, intervenções que surpreendem o olhar de um observador que tinha a expectativa de condições precárias para uma Frente da Funai para populações isoladas.” Isso confirma os comentários que circulam na cidade de que foi construída na área indígena uma super-estrutura com casas e móveis de primeira linha, enquanto aos indígenas é negado o acesso aos bens de consumo, mesmo os mais simples, que poderiam facilitar suas vidas.
Em matéria da revista acima citada (Julho de 2004) é revelado um fato, no mínimo, intrigante, pois diz “O indigenista João Lobato, atual chefe da Frente, chegou em 1996. Encontrou os índios vestidos e vivendo em função de um posto do governo. (...) Em primeiro lugar roupas foram queimadas e todos voltaram a andar nus como antes.” Da mesma forma, em entrevista a uma TV estrangeira (http://www.referencies.cat/ Numero 32, 2008, Ano XII), ele próprio declara que: “... em 96, falecendo o Chefe da frente de contato Cuminapanema fui chamado pelo Coordenador Sidney Possuelo a assumir o posto (...). Os Zo’é já usavam roupas, já tinham alimentação, cotidianamente oferecida pela FUNAI. (...) aí queimamos as roupas e hoje os Zo’é são totalmente autônomos na sua alimentação ...”
Percebe-se aqui um grande paradoxo: o chefe da Frente Etno-ambiental destruiu os bens adquiridos pelos índios junto aos próprios funcionários da Funai, que o antecederam nesse local, mas disponibilizou um telefone via satélite para promover as ações da Frente Etno-ambiental. Além do mais, construiu ali uma estrutura com um “paisagístico impressionante” no meio de uma reserva de índios, ditos isolados. Isso deixa claro que, por algum interesse, um primitivismo arbitrário foi imposto a uma sociedade que já havia optado por outras alternativas culturais.
Outro fato intrigante é que, enquanto se propaga o isolamento desse povo e que sua cultura está sendo preservada, registra-se um grande fluxo de estrangeiro na área. Ali gravam, reproduzem e vendem suas imagens no Brasil e no exterior a preços exorbitantes. Basta uma pesquisa na internet para constatar exposição de imagens e disponibilidade de filmes dessa etnia em exibição e alguns deles em cartaz em Sites de ONGs que pregam ser defensores de sua cultura.
Percebe-se que os Zo’é são mantidos isolados e obrigados a viver de forma totalmente primitiva para ser atração turística internacional. O pior de tudo é que o jornal Folha de São Paulo de 09 de julho de 2000 noticiou que um Deputado Federal na época protocolou denúncia dessas irregularidades junto ao Ministério da Justiça e ao Ministério Público Federal, mas tudo indica que as devidas providências não foram tomadas para corrigir essa situação.
Lamentavelmente são coisa que nossas autoridades não vêem ou não querem ver. Portanto, enquanto esse enigma não for decifrado, essa comunidade indígena continuará sendo objeto de interesses diversos em detrimento dos seus direitos prescritos em nossa Carta Magna e na Declaração Universal dos Direitos Indígenas, assinado pela Presidência da República no ano de 2007.

Um comentário:

Anônimo disse...

oba!!! finalmente tá postando.. :)
blz... ainda nao li mas vou ler tudo...
valeuz!!

Tida.