terça-feira, 11 de outubro de 2016

ONU afirma que situação das comunidades indígenas brasileiras é a pior desde 1988


Relatório das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas no Brasil ressalta que os povos indígenas estão mais vulneráveis agora do que em qualquer outro tempo desde a Constituição Federal de 1988. O documento foi divulgado nessa terça, 20 de setembro, durante a 33ª Reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, realizada em Genebra, na Suíça.
O trabalho é resultado da missão da relatora especial sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, que esteve no Brasil de 7 a 17 de março deste ano para fazer um diagnóstico da situação indígena e acompanhar a evolução das recomendações feitas pela ONU em 2009, por meio de seu antecessor, James Anaya. Durante a missão, Victoria visitou aldeias, comunidades, instituições e órgãos públicos que atuam na temática.
Segundo o coordenador da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, subprocurador-geral da República Luciano Mariz Maia, "nós do MPF não fomos surpreendidos. Os problemas como demarcação, violência contra indígenas, impacto de grandes projetos sobre terras e a ausência de processo de consulta prévia, livre e informada de medidas que os atingem já eram conhecidos pelo ministério público".
O procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida, que atua na questão indígena em Mato Grosso do Sul, representou o MPF na 33ª Reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Ele aponta que "infelizmente, a resposta do Brasil ao relatório não enfrentou as causas estruturais das violações apresentadas. Enquanto não houver uma mudança na abordagem jurídica e administrativa, os mesmos e, provavelmente, piores resultados ocorrerão".
Muito índio, pouca terra - Mato Grosso do Sul tem a segunda maior população indígena do país, mais de 70 mil pessoas divididas em várias etnias. Apesar disso, somente 0,2% da área do estado é ocupada por terras indígenas. As áreas ocupadas pelas lavouras de soja (1.100.000 ha) e cana (425.000 ha) são, respectivamente, dez e trinta vezes maiores que a soma das terras ocupadas por índios em Mato Grosso do Sul.
A taxa de assassinatos entre os guarani – cem por cem mil habitantes – é quatro vezes maior que a média nacional, enquanto a média mundial é de 8,8. O índice de suicídios entre os guarani-kaiowá é de 85 por cem mil pessoas.
Em Dourados, há uma reserva com cerca de 3600 hectares, constituída na década de 1920. Existem ali duas aldeias – Jaguapiru e Bororó – com cerca de 14 mil indígenas. A densidade demográfica é de 0.3 hectares/pessoa. O procurador Marco Antonio Delfino de Almeida aponta que "esta condição demográfica é comparável a verdadeiro confinamento humano. Em espaços tão diminutos é impossível a reprodução da vida social, econômica e cultural.
Direito à consulta e conflitos - O relatório critica as violações de direitos das populações indígenas por grandes empreendimentos, alertando para a importância de se ouvir os povos sobre projetos que os atinjam, em cumprimento à Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho. Segundo Victoria, o mecanismo "impediu contestações judiciais dos povos indígenas e permitiu que os projetos prosseguissem sem o cumprimento do dever do Estado de consultar para obter o consentimento livre, prévio e informado dos povos afetados"
A relatora especial destacou, ainda, os atentados cometidos contra os povos indígenas de Mato Grosso do Sul. Victoria Tauli-Corpuz condenou os ataques e conclamou o governo brasileiro "a pôr um fim a essas violações de direitos humanos, bem como investigar e processar seus mandantes e autores diante da Justiça".
Victoria elogiou o MPF pela condução da investigação sobre o ataque violento de 14 de junho de 2016 no estado e pela denúncia contra 12 pessoas envolvidas no uso de milícias contra povos indígenas. Avaliou, ainda, ser urgente a conclusão do processo e a responsabilização dos envolvidos pelo Poder Judiciário.
Recomendações - Com base nas observações feitas durante a missão no país, a relatora especial sugere uma série de recomendações ao governo brasileiro, como a adoção de medidas urgentes para enfrentar a violência e discriminação contra os povos indígenas; o fortalecimento de instituições públicas como a Funai; a capacitação de autoridades públicas, inclusive altas autoridades do poder Executivo e juízes de primeiro grau, considerando sua inapropriada aplicação de doutrinas que negam direitos.
A ONU também recomenda ao Estado brasileiro redobrar esforços na demarcação e proteção de terras; alocar recursos para melhorar o acesso à justiça; garantir significativa participação e consulta prévia, livre, informada e de boa-fé dos povos indígenas com relação a grandes ou impactantes projetos de desenvolvimento e respeitar protocolos indígenas próprios para consulta e consentimento com relação a assuntos de desenvolvimento; e assegurar, de maneira participativa, estudos de impacto e compensações para os danos causados.
Resposta do governo - Em resposta ao relatório da ONU, o governo brasileiro informou que está estudando "cuidadosamente" as recomendações feitas e que discorda da afirmação de que houve retrocesso na proteção dos povos indígenas entre a visita do ex-relator especial James Anaya, em 2009, e a visita de Victoria, em 2016.
Segundo o governo, o Brasil "não subestima os desafios enfrentados na promoção e proteção dos direitos dos povos indígenas" e elenca uma série de ações que demonstram que "evolução positiva e significativas ocorreram". O governo federal cita, como demonstrativo de suas ações, a constituição, pelo Ministério Público Federal, da Força Tarefa Avá Guarani e os trabalhos por ela realizados no Estado de Mato Grosso do Sul.
A Força-Tarefa Avá Guarani foi instituída pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para apurar crimes contra comunidades indígenas de MS. Em 10 meses de investigações, doze pessoas foram denunciadas por formação de milícia privada contra os índios e outras cinco foram presas preventivamente por participação em crimes contra indígenas.
O MPF esclarece que, ainda que a instituição não integre a estrutura do executivo federal (a quem compete reprimir os crimes cometidos contra as comunidades indígenas), a força-tarefa "é uma maneira de dar uma resposta efetiva aos milhares de indígenas vítimas de violência, que poderiam deixar de acreditar na Justiça por causa da impunidade". Só nos últimos 10 anos, pelo menos um índio foi morto por ano em decorrência do conflito fundiário em Mato Grosso do Sul
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Fonte: http://www.folhadedourados.com.br/noticias/brasil-mundo/onu-afirma-que-situacao-de-indigenas-e-pior-desde-1988

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

MISSÕES EVANGÉLICAS: AMEAÇA OU SOCORRO PARA OS POVOS INDÍGENAS?

         As missões evangélicas que atuam junto aos povos indígenas no Brasil, têm sido frequentemente alvos de falsas acusações levantadas através da Mídia sensacionalista e, inclusive, nos meios acadêmicos. E, mesmo as já investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal e consideradas improcedentes, continuam circulando nos diversos meios de comunicação como se fossem verdadeiras, maculando a imagem de pessoas e famílias honestas que dedicam toda a sua vida no atendimento ao povo indígena no Brasil.

 Uma das estratégias adotadas por esses perseguidores é a tentativa de vincular as agências missionárias evangélicas ao processo de catequese praticado no tempo da colonização do Brasil. Porém, omitem que a presença destas agências junto aos índios no Brasil só ocorreu a partir do século XX (1912) e de forma mais efetiva nas décadas de 1940 e 1950. Ao contrário da postura catequizadora adotada nos séculos anteriores, as agências missionárias evangélicas foram as primeiras entidades a se preocupar com o estudo linguístico e antropológico das línguas e das culturas indígenas e com a autodeterminação desses povos.
  
Segundo  Ruth Monserrat, prefaciando o livro “Línguas Indígenas Brasileiras” de Arion D. Rodrigues (1986), até o ano de 1980, apenas 60 línguas indígenas estavam contempladas com trabalhos de natureza linguística e em cerca de 50 delas a pesquisa fora feita por linguistas missionários. Ressalva-se ainda que grande parte dos linguistas brasileiros tiveram como seus mestres os linguistas missionários da SIL (Sociedade Internacional de Linguística) que atuaram por cerca de meio século nas Universidades Federais, tais como, UNICAMP, UNB e UFPa.

Além da implementação da pesquisa linguística e antropológica, a educação bilíngue e intercultural, deliberada hoje pelo Ministério da Educação, foi implantada por membros dessas organizações evangélicas, SIL, MNTB (Missão Novas Tribos do Brasil) e MEVA (Missão Evangelizadora da Amazônia), dentre outras, como descreveu uma das mentoras dessa nova modalidade educacional,

“Quando a SIL começou seu trabalho no Brasil, há 50 anos, a maioria das situações eram predominantemente monolíngues. Desde então, os linguistas da SIL trabalharam com a alfabetização, inicialmente, dos adultos, na língua materna, em rigorosa obediência à estrutura social e aos padrões de autoridade tradicionais do grupo. (http://educaoescolar.blogspot.com.br/2009_12_01_archive.html.)

Nota-se que a MEVA junto à etnia Wai Wai na região Norte do Brasil que, começou a educação escolar indígena pela língua materna e com posterior transição para o português, resultando hoje numa taxa quase zero na taxa de analfabetismo nessa etnia. A maioria da população já completou o ensino fundamental e muitos cursam o ensino médio na própria aldeia. Grande parte dessa população é bilíngue e podem conviver harmoniosamente com a sociedade nacional e com outras etnias indígenas sem, contudo, abandonarem sua cultura e sua língua. Professores foram treinados e, com pagamento feito pelos próprios nativos, foi instituído ali o magistério indígena, muito antes da atuação do Município e do Estado, que somente se deu no final da década de 1990. Hoje cerca de 50 professores cursam graduação em Educação Intercultural pela Universidade Estadual e mais de 20 jovens estudam nas Universidades Federais na região.


Outro argumento forçado é o de que o trabalho missionário é uma ameaça as culturas indígenas, argumento totalmente contrário aos registros oficiais sobre o assunto. Na matéria da Revista Veja intitulado “A Lei da Bíblia na Selva”, referente ao trabalho missionário junto à etnia Baniwa, no Norte Amazonas, foi registrado que:

 “A convivência (...) do mundo novo com o antigo é mais espantosa quando se sabe que foi Jesus Cristo (...) que acabou garantindo sua sobrevivência. Eis uma novidade capaz de abalar muitas das teorias antropológicas, mais especificamente a que via o Evangelho como um vilão responsável pela aculturação indígena (...) a Bíblia converteu-se num poderoso veículo de coesão cultural.grifo nosso (Revista Veja, janeiro de 1998)
           
Já entre os Zo’é no Pará, quando assistidos por missionários da MNTB em 1989, um assessor da presidência da Funai, Candido Guerreiro Guimarães, ao vistoriar a área declarou: “.... a missão que se instalou na tribo em 1982 não influenciou em nada a cultura dos índios, designados provisoriamente como ‘arredios do rio Cuminapanema. Em três anos de Funai e mais trinta de Força Aérea Brasileira, eu nunca vi nada parecido.” (Folha de S. Paulo - 04/05/89) grifamos

E como esses argumentos acima citados não se sustentam, os perseguidores acabam por apelar e passaram a insinuar que a presença missionária nas aldeias constitui uma ameaça à saúde e à vida dos indígenas. No entanto, omitem que até o final da década de 1990, quando o Ministério da Saúde assumiu a assistência aos indígenas, quem fazia a maior parte desse trabalho eram os enfermeiros e médicos missionários e sem nenhum custo para os cofres públicos. E diga-se de passagem, não havia reclamações dos indígenas como existe hoje sobre o tipo de atendimento recebido por eles. Aliás, muitas etnias resistiram fortemente a essa mudança, mas sem sucesso devido às arbitrariedades que sempre são cometidas contra eles.

Além do mais, ignoram que a população evangélica é a que está menos suscetível às doenças infecto contagiosas e não possui vícios e práticas que atentem contra a saúde humana e provoquem dependência e o contágio de outras pessoas. Além do mais, os membros das agências missionárias são, devidamente, orientados quanto ao cuidado de sua saúde e preparados para cuidar daqueles a quem irão servir. Fazem seu trabalho motivados pelo amor a Deus e ao próximo e não apenas para ganhar um bom salário ou adquirir fama e, por isso, não medem esforços no socorro aos necessitados.

No entanto, essa postura acusatória tem sido recorrente, principalmente, quando se trata de populações isoladas e as consideradas de recente contato, como é o caso da população Zo’é, junto dos quais a MNTB foi inescrupulosamente caluniada e difamada. E, embora todas essas acusações já tenham sido investigadas e consideradas improcedentes pelas autoridades competentes, as mesmas continuam sendo copiadas e publicadas, em total desrespeito à conclusão pericial da Polícia Federal e à decisão do Ministério Público Federal e da Justiça Federal, abaixo delineadas:

 “Pelo exposto, esta autoridade não encontrou provas suficientes para que pudesse concluir que a presença da MNTB na região teria ocasionado a morte da população ZO’É, ou seja, não existe comprovação de relação de causalidade entre a ação da MNTB e o resultado morte dos índios ZO’É.” (IPL085/1998-DPF.B/SNM/PA)

E, com base nesse relatório, pugnou-se o MPF pelo ¨... arquivamento do feito, pois que não comprovados os crimes previstos no art. 121, caput, CP, e crimes previstos no art. 267 e 268, imputados de início a membros da MNTB...¨ (Proc. n. 2000.3902.001859-0, IPL n. 085/98), sendo o processo arquivado pela Justiça Federal em 27 de fevereiro de 2004

O que de fato aconteceu a esse povo está devidamente registrado nos relatórios oficiais da MNTB, bem como dos médicos da FUNAI a visitar a área na época. Dentre eles o Dr. Lauro Moreira Faro que, em seu relatório à FUNAI declarou:

 “No dia 22.02.89, nos deslocamos para Santarém com a finalidade de fazer um levantamento das condições da assistência prestada pela Missão Novas Tribos do Brasil aos índios (…) Examinamos todos os índios que estavam na missão e constatamos que todos estavam em regular estado de saúde; alegres dispostos, brincalhões (…) Achamos que o trabalho que vem sendo realizado pela missão é muito sério e que eles merecem um reconhecimento pelo amor e dedicação que têm para com os índios. grifo nosso
           
            Uma informação fundamental que propositalmente é omitida pelos acusadores é a de que, quando os missionários chegaram naquela região, essa população indígena já estava num sério processo de extinção, devido à malária contraída a cerca de vinte anos atrás, conforme concluiu o Dr. Lauro da FUNAI ao perceber o baixo índice de jovens e adolescente nessa etnia. E, graças essa dedicação e amor dos missionários pelos índios, indo de aldeia em aldeia para tratamento dessa epidemia, a situação de saúde do grupo foi revertida e a população voltou a crescer de 119 pessoas no primeiro censo para 136, quatro anos depois. Hoje, segundo o censo da SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena), responsável por esse serviço público nas aldeias, soma-se cerca de 270 pessoas.

Daí se conclui que essas acusações são frequentemente levantadas com objetivo claro de manipular a opinião pública e convencer as autoridades a abalizar o seu procedimento inconstitucional de proibição da atuação missionária nas aldeias e de cerceamento do direito dos indígenas de opção religiosa. Não obstante, esses direitos sejam amplamente assegurados pela Constituição Federal do Brasil, pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e demais leis correlatas, agentes federais e representantes de certas ONGs insistem em defender essa ideologia perniciosa. E, lamentavelmente, muitos internautas e jornalistas desinformados, ao copiarem e republicarem essas matérias, acabam se tornando cumplice dessa postura discriminatória e de perseguição religiosa a pessoas de bem, correndo, inclusive, o risco de serem enquadrados em algum momento pela justiça como cúmplice por essa atitude.

PELO EXPOSTO, PERCEBE-SE QUE, AO CONTRÁRIO DO QUE MUITOS TENTAM INCULCAR NA MENTE DA POPULAÇÃO EM GERAL, A PRESENÇA MISSIONÁRIA NAS ALDEIAS INDÍGENAS TEM SIDO UM VERDADEIRO SOCORRO À VIDA DESSAS PESSOAS E O MAIOR FATOR DE PRESERVAÇÃO CULTURAL E LINGUÍSTICA DESSA POPULAÇÃO.

sábado, 2 de janeiro de 2016

Questão Zo’é: a história que não é contada


"Porque nada podemos contra a verdade, senão pela própria verdade” I Cor. 13:8
   
Tenho acompanhado a discussão nos Blogs e Sites da cidade de Santarém e região em torno das reivindicações da população Zo’é, exibida pela TV Atalaia em Oriximiná e postada no Youtube no final do ano passado - http://www.youtube.com/watch?v=fG5l3vrLOMA 

Como amigo desse povo e tendo feito parte da equipe que os salvou da extinção a que estavam fadados pela malária, já existente antes da chegada dos missionários entre eles, decidi me pronunciar a respeito, para mostrar a verdade que, intencionalmente ou por desconhecimento de causa, tem sido ocultada pela maioria dos que escrevem sobre esse tema.

Isso porque não suporto mais ver o povo brasileiro ser induzido a acreditar em mentiras, enquanto a verdade sobre o assunto não é mencionada. Creio que muitos fazem isso, apenas copiando matérias de outros Sites ou porque ouviram somente o lado deturpado da história. Porém, outros o fazem para se promover ou a fim de ocultar alguma ação indevida entre esse povo. 

Não entendo por que, em toda matéria propagando a entrada e permanência de turistas, pesquisadores, equipes de TV ou praticantes de alguma ação social nessa terra indígena, insinuações maldosas tenham que ser proferidas contra missionários! Isso só revela que há um forte preconceito contra a população evangélica que esses obreiros representam. Segue os fatos, documentalmente comprovados, como realmente o são.

Tudo começou em 1980, quando uma equipe missionária da Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), conveniada com a Funai (Fundação Nacional do Índio), localizou-se na cidade de Santarém – PA, para a execução de um projeto de mapeamento das tribos indígenas nessa região. Empreendendo viagens pelo rio Cuminapanema, localizaram uma tribo indígena isolada que vivia ao norte do Estado e, em agosto de 1982, tiveram o primeiro encontro com aqueles índios.

Com a anuência da Funai, construíram uma pista de pouso, a cerca de 40 kms da primeira aldeia e estruturaram uma base, prevendo um novo contato com o grupo, o que de fato aconteceu no final de 1987. A partir de então, desenvolveram um trabalho completo de assistência social com esse grupo que estava sendo dizimado pela malária, antes da chegada dos missionários. Com uma dedicação sem limites, trataram a saúde do povo, dando-lhes esperança na luta contra a malária já existente entre eles. Com isso,  a situação de saúde do grupo foi revertida e a população que já havia entrado num processo de extinção, voltou a crescer de 119 para 136 pessoas em quatro anos. Hoje, segundo o último censo da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), são 250 pessoas.
Isso foi confirmado pelo primeiro médico da Funai a visitar os Zo’é (Poturu) em 1989 quando disse:

“No dia 22.02.89, nos deslocamos para Santarém com a finalidade de fazer um levantamento das condições da assistência prestada pela Missão Novas Tribos do Brasil aos índios (…) Examinamos todos os índios que estavam na missão e constatamos que todos estavam em regular estado de saúde; alegres dispostos, brincalhões (…) Achamos que o trabalho que vem sendo realizado pela missão é muito sério e que eles merecem um reconhecimento pelo amor e dedicação que tem para com os índios.” (Relatório do  Dr. Lauro Moreira Faro à Funai, março de 1989) 

Também, segundo o jornalista Francisco José “Na primeira missão da FUNAI os Poturu estavam tão bem de saúde que até realizaram a dança do urubu para saudar os visitantes. (Globo Repórter, maio de 1989)

Sendo o grupo monolíngue, esforçaram-se no aprendizado da língua e já se comunicavam com eles nesse idioma.  A análise gramatical e fonológica estava em andamento, bem como a elaboração de um dicionário bilíngue. Procedia-se também a pesquisa e análise antropológica de sua cultura. Havia um relacionamento promissor entre missionários e indígenas e vários projetos estavam em andamento. E, reconhecendo que um dia, inevitavelmente, esses índios entrariam em contato com a sociedade envolvente, iniciaram, de forma criteriosa, o processo de preparo para essa futura convivência.

Porém, a partir de 1989, começaram-se as incursões de jornalista e pesquisadores, levados pelos sertanistas ligados à Coordenação Geral de Índios Isolados da Funai, os quais começaram a fornecer, precocemente e em massa, certos bens industrializados, que os missionários criteriosamente evitavam introduzir nessa comunidade. Tudo isso para que os indígenas praticassem seus rituais, mesmo fora de época, a fim de serem filmados ou para carregarem suas bagagens nas incursões pela mata. Mas em seu discurso acusavam os missionários de interferirem na cultura indígena!

Embora esses elementos tenham sido sempre bem recebidos e respeitados, inclusive, recebendo também tratamento de saúde por parte dos missionários ali presentes, traiçoeiramente moveram perseguição religiosa contra eles, caluniando e difamando-os através da Mídia. Dois anos depois, um desses sertanistas assumiu a Presidência da Funai e logo em seguida uma antropóloga estrangeira propôs a ele a implementação de projeto naquela terra indígena, com financiamento obtido “junto à instituições internacionais”, com“levantamento cartorial e  requerimentos minerais” e com “monitoramento via satélite”. E, para isso, impondo que “A condição para a implantação do Projeto (era) a exclusão da “competição” com a MNTB nas responsabilidades das intervenções na área de controle do contato e de saúde….” (Carta de Dominique Gallois a Sidney Possueleo em 14/04/1991)

Assim, em outubro de 1991, sem nenhum processo formal, os missionários foram retirados da área, contra a vontade dos índios que apelavam veementemente para que permanecessem, dizendo: “Aqui é nossa terra e agora é também o lugar de vocês e nós estamos dizendo para vocês ficaram! Quando estávamos morrendo de febre, dor de cabeça e na barriga (sintomas da malária), foram vocês que nos deram remédio e saramos …” Um dos sertanistas que liderava a expedição da Funai, questionado sobre a manifestação da vontade indígena, simplesmente respondeu: “isso não nos interessa no momento” (Texto em fita K7, outubro de 1991).
Em 1998,  para impedir que os missionários fossem autorizados a retomar as suas atividades na aldeia, a MNTB e o então presidente da Funai, foram novamente acusados por esses elementos, com calúnias piores do que as anteriores, levando a MNTB a mover ação de Interpelação Judicial contra esses acusadores. Isso levou também o Ministério Público Federal a  impetrar um Mandado de Segurança contra a Presidência da Funai, acusada de não proteger os índios, e a abertura de um Inquérito Policial para investigar as referidas acusações.

Embora, esse Inquérito tenha demorado 06 (seis) longos anos para ser concluído, a verdade veio à tona. A Justiça Federal decidiu arquivar o processo, acatando pedido do Ministério Público Federal em Santarém, porque a Polícia Federal em seu relatório final, datado de 30 de maio de 2003, declarou improcedentes todas as acusações feitas contra a Missão no decorrer de todos esses anos, como segue:

“Os documentos de folhas 802/803 comprovam que o MNTB agia na região com a anuência da Funai desde 1980, inclusive verificando-se no ofício de fl. 802 a comunicação de que a missão havia encontrado na região ao norte do Pará uma tribo “arredia”, posteriormente identificada como ZO’É. (…)
Pelo exposto, esta autoridade não encontrou provas suficientes para que pudesse concluir que a presença da MNTB na região teria ocasionado a morte da população ZO’É, ou seja, não existe comprovação da relação de causalidade entre a ação do MNTB e o resultado morte dos índios ZO’É.”

Infelizmente, mesmo que a Justiça Federal tenha considerado falsas as acusações levantadas pelos sertanistas, por alguns antropólogos irresponsáveis e pela Mídia sensacionalista, insinuações desse tipo continuam sendo publicadas até hoje em Jornais, Blogs, Sites, etc., uma verdadeira afronta à decisão da Justiça Federal.

Portanto, como cidadão brasileiro, conclamo aos leitores que avaliem sem parcialidade essa causa e se posicionem pela verdade e contra as injustiças praticadas contra essas pessoas. Mas o que mais me aflige é que, depois de mais de 20 anos de contato com pessoas do Brasil e do mundo que adentram suas terras, os Zo’é continuam sendo privados de seus direitos constitucionais e mantidos sob um pseudo isolamento para impedi-los de reencontrarem os missionários que os ajudaram num dos momentos mais difíceis de suas vidas.

Finalmente, os próprios indígenas perceberam o que está acontecendo e decidiram se manifestar contra as arbitrariedades praticadas contra eles, desmascarando a ideologia propagada de que estão felizes no estado a que foram submetidos. O que se espera agora é que o Ministério Público, responsável constitucionalmente por defendê-los, julgue imparcialmente essa causa, devolvendo aos indígenas e aos missionários os direitos que foram vilipendiados por todo esse tempo.


Prof. Onésimo Martins de Castro
Licenciado e Pós-Graduado em Letras pela UFPa e Pós-Graduado em Antropologia Intercultural e em Gestão Escolar


Fonte: http://www.oimpacto.com.br/questao-zo%E2%80%99e-a-historia-que-nao-e-contada/ - 12/01/2011