sábado, 14 de junho de 2025

 

O IMPERIOSO DESAFIO DA OBRA INACABADA

 

Onésimo Martins de Castro [1]

FONTE: Revista Internacional de Missiologia –Rimi    n. 3 2025

https://rimi.org.br/missoes/issue/view/4/2

RESUMO

Este artigo tem por objetivo promover reflexões sobre o histórico de plantação da Igreja de Cristo em nossa nação e o desafio da obra ainda inacabada. Para tal, adotou-se como ponto de partida um diálogo metafórico no primeiro capítulo do livro “O clamor do mundo” de Oswald Smith”. Neste capítulo intitulado "A derrota de Satanás”, o autor aborda de forma ilustrativa a luta das hostes espirituais contra o avanço da propagação do evangelho aos povos não alcançados. A analogia foi aqui aplicada ao contexto histórico da evangelização no Brasil, tendo por base relatos de experiências registrados por Jean de Léry no seu livro “Viagem à Terra do Brasil” e “Índios Evangélicos no Brasil Holandês” de Francisco Leonardo Schalkwijk. Levando-se também em consideração os registros históricos dos impulsos e retrocessos da missão da Igreja de Cristo ao longo dos séculos, com enfoque principal no processo de evangelização dos povos indígenas neste país. Assim, o diálogo alegórico busca refletir o histórico de avanços e recuos da obra missionária neste solo pátrio, pontuando como reflexão o desafio da obra ainda incompleta e a necessidade de uma postura mais proativa da Igreja de Cristo no cumprimento da Grande Comissão.


Palavras-chave: Evangelização; Povos indígenas; Obra inacabada.

 

ABSTRACT

This article aims to promote reflections on the history of the planting of the Church of Christ in our nation and the challenge of the still unfinished work. To this end, a metaphorical dialogue in the first chapter of the book “The cry of the world” by Oswald Smith was adopted as a starting point. In this chapter, entitled “The Defeat of Satan,” the author illustratively addresses the struggle of the spiritual hosts against the advance of the propagation of the gospel to unreached peoples. Here, the analogy is applied to the historical context of evangelization in Brazil, based on accounts of experiences recorded by Jean de Léry in his book “Journey to the Land of Brazil” and “Evangelical Indians in Dutch Brazil” by Francisco Leonardo Schalkwijk. It also takes into consideration the historical records of the impulses and setbacks of the mission of the Church of Christ over the centuries, with a focus on the process of evangelization of Indigenous peoples in this country. Thus, the allegorical dialogue seeks to reflect the history of advances and setbacks of the missionary work in this homeland, highlighting as a reflection the challenge of the still incomplete work and the need for a more proactive stance by the Church of Christ in fulfilling the Great Commission.

 

Keywords: Evangelization; Indigenous peoples; Unfinished work.

 

 INTRODUÇÃO

         “Então, ouvi grande voz do céu, proclamando: Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus. Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida. Por isso, festejai, ó céus, e vós, os que neles habitais. Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta.” Apocalipse. 12:10-12

 O eminente pastor e escritor Dr. Osvald Smith, no seu livro “O Clamor do Mundo”, publicado no Brasil em 1969, apresenta uma brilhante obra de ficção sobre a preocupação de Satanás com avanço da propagação do Evangelho conforme proposto pelo Senhor Jesus. Essa analogia é registrada no seu primeiro capítulo intitulado “A derrota de Satanás”, onde explana sobre frequentes reuniões de Satanás com seus demônios, enviados como guardiões do império das trevas nas regiões onde o evangelho ainda não havia sido anunciado (SMITH, 1969).

Nesse texto ilustrativo da batalha espiritual nos campos missionários, o autor aponta a luta de Satanás tentando impedir que o evangelho chegasse em várias partes do mundo tais como o Alasca, Tibet, Afeganistão e outros territórios ainda não alcançados. Mas, pelo mover de Deus, levantando obreiros destemidos e prontos a pagar o preço e a Igreja que se envolveu na obra, principalmente, em oração, as forças do mal não resistiram e as portas do inferno foram derrubadas nesses países (SMITH, 1969).

Considerando o impacto que essa analogia tem produzido em tantas vidas ao redor do mundo, julgo importante parafraseá-la, aplicando ao processo de evangelização no Brasil, enfocando, principalmente, os povos indígenas desta terra e o desafio da obra ainda inacabada.

O desafio é decorrente dos povos nativos no Brasil, à semelhança de tantos outros, terem ficado por séculos preteridos quanto ao recebimento da mensagem de salvação que Jesus determinou a seus discípulos fosse pregada a toda criatura e a todas as etnias. Não obstante, os historiadores tenham registrados que todo o mundo conhecido na época fora evangelizado até o final do Século III, somente nos Séculos XV e XVI o cristianismo chegou às terras mais remotas. Porém, um cristianismo predominantemente secular e ainda desprovido do real cumprimento da Grande Comissão dada pelo Senhor Jesus cerca de 1500 anos antes, quando disse: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra.” Atos 1:8

E, mesmo quando houve as primeiras iniciativas de anúncio do genuíno evangelho nestas paragens, esta ação teve seus impulsos e percalços ao longo dos séculos, à semelhança dos fatos históricos nos séculos passados. Portanto, com objetivo de entender os pontos fortes e fracos no processo de avanço da Igreja de Cristo em nossa terra, lançamos mão desta abordagem metafórica, apresentando a luta do império das trevas contra o avanço do Reino, desde a colonização do Brasil e até o presente. O desafio permanece ainda vigente atualmente, o que demanda proatividade da Igreja, tanto em oração como em ação direta a favor dos povos não alcançados.

 

SÉCULO XVI DC

         No final do Século XVI, pouco tempo após a proclamação da Reforma Protestante e cerca de 60 anos do descobrimento do Brasil, Satanás convoca os seus príncipes, enviados como guardiões do território brasileiro e questiona-os autoritariamente.

— Meus guardiões desse vasto território! Por muitos séculos temos mantido nosso Condado totalmente isolado dos mensageiros do dito Rei dos Judeus e assim todos os nativos desta terra foram mantidos distantes da mensagem que ele mandou pregar a todos os povos.

— Então contem-me quais são as notícias atuais! Determinou Lúcifer, olhando duramente e com expressão de curiosidade, o rosto do demônio que estava à sua frente.

— Não tão boas mais, meu senhor! — respondeu o príncipe das trevas no Brasil.

— Não guardaste bem o seu território da propagação da mensagem que os colonizadores europeus podem ter trazido? — vociferou o príncipe da potestade do ar.

— Sim! — replicou o príncipe, inclinando-se temerosamente.

— Tenho lutado muito para que isso não aconteça — declarou sem muita convicção.

— Então houve já alguma tentativa de persuadi-los à sua fé? Insistiu, com tom de autoritarismo e desconfiança na voz.

— Sim. Em 1500, os ditos cristãos chegaram aqui e tomaram posse desta terra. Mas até agora esses colonizadores e propagadores da fé estrangeira não conseguiram sucesso neste território. Mesmo que tenham fincado ali na praia o símbolo de sua crença e feito o seu ritual, que chamam de Missa, fizemos de tudo para que apenas mantivessem esse ritual religioso e, dessa forma, não ensinassem de maneira clara a mensagem que poderia levar os nativos a crerem naquele que disse ser “o caminho, a verdade e a vida”.

— Muito bem! Exclamou o líder máximo do império das trevas. Fizeste um bom trabalho! Mas então, nenhum nativo ouviu a mensagem dos ditos reformadores?

— Infelizmente alguns ouviram, meu senhor! Um pequeno grupo de Huguenotes foi enviado por João Calvino, conhecido como um dos reformadores, em uma das comitivas francesas que vieram também tomar posse de nossa terra. Um deles, por nome Jean de Léry, foi mais ousado e penetrou a selva brasileira na região Sudeste e, por algum tempo, esteve com os nativos aprendendo sua língua e tentando falar-lhes sobre sua crença. Mas, chamei meus demônios auxiliares e conseguimos mudar a cabeça de Nicolas Durand de Villegagnon, que comandou essa comitiva, a renegar sua fé e aliar-se aos demais religiosos que chegaram antes deles. Com isso, levantamos uma forte perseguição contra esses ditos reformados, levando alguns à morte por serem considerados hereges em relação à religião dos colonizadores. E o audacioso Jean de Léry foi deportado de volta para França, cessando a obra que haviam começado.

— Ainda bem que conseguiram esse feito! Bradou Satanás com triunfo.

 

Esse primeiro episódio ilustrativo reflete bem os acontecimentos da primeira tentativa de evangelização do Brasil na década de 1550 e está registrado no livro Viagem à Terra do Brasil, de Jean de Léry, publicado no Brasil no final do Século XX. (LÉRY, 1961). Porém, à semelhança do que ocorreu com os Judeus na reconstrução do Templo em Jerusalém, por determinação de Ciro, o persa, houve também aqui uma lacuna de cerca de aproximadamente 100 anos sem nenhum registro de novo esforço missionário no Brasil. Até que novo movimento missionário se levantou na Holanda, conforme registrado pelo teólogo e historiador, Rev. Francisco Leonardo Schalkwijk, em seu artigo “Índios Evangélicos no Brasil Holandês. (SCHALKWIJK, 1997)

  

SÉCULO XVII DC

         Esse novo movimento, embora ainda incipiente, voltou a incomodar o império das trevas. Isso porque, na comitiva holandesa enviada na tentativa de tomar posse de parte deste solo pátrio, vieram também pastores e líderes protestantes e deram início à evangelização do Brasil. Estabelecendo-se no Nordeste brasileiro, plantaram Igrejas, ordenaram pastores, e chegaram até a se organizar em Concílio. Escolas foram implementadas, formaram professores, inclusive indígenas, que foram contratados para essa função.

Diante disso, Satanás convoca nova reunião e os príncipes das diversas regiões do Brasil compareceram para prestar seus relatórios. E o príncipe do Sudeste, onde a primeira tentativa dos Huguenotes havia sido sufocada, foi o primeiro a prestar seu depoimento.

 

— Então, príncipe do Sudeste, como está hoje o seu condado? Bradou receoso o líder do império das trevas.

— Sim, Majestade! Reforçamos nossa estratégia e, até onde sabemos, em nossa região predomina apenas a religiosidade tradicional, que mesmo imposta aos nativos, não tem produzido transformação espiritual de suas vidas como proposto por nosso Arqui-inimigo. Alguns resistiram e fugiram para o interior do país, mas outros apenas aderiram a esse costume religioso, que se fundiu com suas crenças nativas, tornando-os mais resistentes ainda àquela mensagem que os reformadores estão propagando em muitas partes do mundo.

— Ótima estratégia! Exclamou o anjo caído. — Assim ficam satisfeitos, não tendo que deixar seus rituais e, dessa forma, continuarão debaixo de nosso domínio.

— E tu, príncipe do Nordeste! Guardaste bem o seu território? Inquiriu preocupado.

— Lamentavelmente não conseguimos — Exclamou cabisbaixo.

— Por mais guardiões que pude enviar para nossa jurisdição, não pudemos evitar que entrassem em nossa região. Uma comitiva holandesa também decidiu tomar posse desta terra e com eles vieram alguns líderes reformados, apoiados por seus parceiros na Europa. Estes ficaram intercedendo por eles junto ao seu Chefe Supremo, que enviou seus anjos para os proteger e, por longo tempo, não pudemos resistir-lhes.

— Mas conseguiram convencer alguém a essa nova crença? Bradou Satanás horrorizado!

— Lamentavelmente sim, meu grande chefe! Não tivemos forças para resistir e muitos aderiram às suas crenças e até criaram congregações religiosas protestantes, que chamam de Igreja. Ensinaram os nativos a lerem e, com acesso à mensagem escrita que os estrangeiros pregavam, alguns desses adeptos foram designados como professores e até mesmo como líderes religiosos dessa nova seita. — Disse envergonhado o príncipe do Nordeste.

— Não pode ser! Bradou Satã furioso.

— Calma, senhor! Interpelou confiante esse submisso serviçal.

 — Como não podíamos atacá-los diretamente, devido à proteção que tinham de seu Chefe Supremo, levantamos os líderes políticos e os seguidores da religião tradicional para atuarem a nosso favor. Estes, mediante uma guerra sangrenta, expulsaram os holandeses, prenderam e sacrificaram alguns nativos que haviam aderido à sua crença. Com isso, muitos nativos negaram a nova fé e outros fugiram para a Amazônia e, dessa maneira, fizemos cessar a obra que já estava em andamento.

— Menos mal! Manifestou Lúcifer, ainda com colérica preocupação.

— E tu, príncipe da Amazônia? Pelo que tenho visto, ao rodear a terra e passear por ela, parece-me que foste mais bem sucedido, não é? Inquiriu o líder dos anjos caídos.

— Sim, admirável senhor! Temos sido fiéis às suas ordens e guardado com eficácia o nosso território. Temos usado muito bem a floresta tropical como esconderijo destes nativos, não só para os que já habitavam da Amazônia, mas também para os que fugiram, principalmente, do Nordeste e do Centro-Oeste. Ali praticam livremente seus rituais de manipulação das forças ocultas, sem que esses religiosos venham importuná-los com seus ensinamentos.

— Também, temos provocado guerras entre eles, eliminando diversas etnias, na tentativa de evitar que sejam representadas diante do trono daquele que pretende estabelecer seu Reino Eterno e, dessa forma, podermos levar mais pessoas para eternidade conosco.

— Esplêndido! Exclamou o príncipe deste mundo tenebroso. Continue assim, meu caro príncipe. Trabalhe para que a Amazônia continue inexplorada e dessa forma, manteremos grande parte desse imenso país, controlado por nós.

 

Lamentavelmente, o movimento protestante que se iniciou pelo Nordeste, estava vinculado à conquista daquela região pelos holandeses. Com isso, segundo o Rev. Francisco Leonardo registrou, uma sangrenta guerra foi travada pelos portugueses contra os holandeses na disputa desse território e atingiu em cheio a Igreja recém-plantada. Com a expulsão dos holandeses, a Igreja perseguida foi sufocada, criando um vácuo de aproximadamente 200 anos no processo de evangelização do Brasil.

 

SÉCULO XIX DC

         Não obstante a semente do evangelho tenha sido lançada pelos holandeses, e produzido frutos, esse espaço de tempo gerou um prejuízo incalculável quanto ao número de almas que poderiam ter sido libertas do império das trevas para o Reino de nosso Senhor Jesus Cristo, como descrito em Colossenses 1:13. Não que a promessa do Senhor Jesus à Igreja de que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” tenha perdido sua eficácia. Mas, sim, pela falta de iniciativa missionária específica da Igreja nos países europeus e na América do Norte para o cumprimento da Grande Comissão aqui no Brasil.

 

Porém, passado esse longo período de inércia na evangelização do Brasil, Satanás fica inquieto com uma nova movimentação percebida em seu território. Então convoca nova reunião com os príncipes sob seu domínio e os inquire mais uma vez autoritariamente.

— Então, meus súditos, a quem tenho confiado esse imenso território, que os colonizadores tentaram chamá-lo de “Terra de Santa Cruz”. Houve novas ameaças de invasão? Inquiriu o anjo caído, já prevendo más notícias.

— Sim, meu senhor! Antecipou o príncipe do Sul

— Estávamos bem tranquilos e apenas monitorando a religião trazida pelos portugueses, já sincretizada com as crenças tribais e dos afrodescendentes. Porém alguns imigrantes, conhecidos com luteranos, começaram a chegar em nosso condado e construíram capelas, onde praticavam rituais diferentes da religião tradicional. Mas felizmente, não estavam muito empenhados a fazer prosélitos e assim pudemos manter nosso domínio sobre a maioria dos habitantes de nossa terra.

— Lamentavelmente o pior aconteceu em nosso território. Disse trêmulo o príncipe do Sudeste.

— Por causa de um movimento, conhecido como “Período das Missões Modernas”, no século passado, muitos seguidores dessa maldita religião começaram a infestar o mundo com sua mensagem. Inclusive, alguns deles, usando de obra humanitária conseguiram acesso a territórios até então muito fechados. E na década de 1950, um médico conhecido por Robert Kelley e sua esposa Sarah chegaram no Rio de Janeiro, implementando aqui seu sistema religioso, denominado Congregacional e alguns dos imigrantes aderiram à sua fé.

— Logo depois, um pastor presbiteriano chamado Ashbel Green Simonton deixou a América do Norte e aportou no Brasil em agosto de 1959. Este, com apoio dos congregacionais e com uma força irresistível recebida de seu Chefe Supremo, implementou sua organização religiosa que, rapidamente, se espalhou não só nos estados sob nossa jurisdição, como também já avança em direção aos demais regiões do país.

Então quase que a uma só voz exclamaram trêmulos os príncipes do Sul, do Nordeste e do Centro-Oeste.

— Senhor das trevas! Essa onda de avanço em direção ao nosso território ganhou força em várias partes do mundo, enviando também os batistas, os metodistas e outras denominações evangélicas. Estes, somando-se com os que haviam chegado ao Sudeste, invadiram também nossas terras e, lamentavelmente, não pudemos resistir a eles, visto que os anjos enviados para os proteger eram mais fortes do que nós.

— Não pode ser! Exclamou Satanás furioso, com vaga esperança de que pelo menos o Condado da Amazônia ainda estivesse protegido.

— Sim senhor! Relatou vitorioso o príncipe da Amazônia.

— Tentaram sim invadir o nosso território, mas essas ações se limitaram às comunidades ao longo dos grandes rios, focalizando prioritariamente os imigrantes e não os nativos desta terra. E, usando os conflitos entre colonizadores e nativos, forçamos os indígenas a se refugiarem no seio da floresta, dificultando o processo de proselitismo religioso que já estava acontecendo em outras partes.

 — Muito bem, príncipe da Amazônia! Boa estratégia! Disse astutamente o anjo caído.

— Mas como essas pessoas estão determinadas a irem até os confins da terra em obediência ao seu senhor, precisamos agir com muita mais sagacidade agora. Precisamos manter os nativos longe do acesso deles.

E, lembrando das antigas estratégias usadas ao longo do tempo, bradou:

— Guardiões de meu califado! Lembram que séculos passados, quando esse movimento avançava aceleradamente e conseguimos freá-lo por muito tempo? — numa referência ao período entre o decreto do Cristianismo como religião oficial e Reforma Protestante do século XVI — Então, precisamos usar essas mesmas estratégias. Vamos levar os adeptos dessa nova religião a se satisfazerem com o trabalho feito até agora e assim diminuirão o espírito de conquista que os tem impulsionado. Ao mesmo tempo, vamos provocar divisões entre eles, o surgimento de novas doutrinas e induzi-los à imoralidade e à corrupção. Com isso seu espírito combativo esfriará, nos deixando em paz por um pouco mais de tempo. Se, pelo menos, deixarem os nativos isolados e sem acesso à mensagem de nosso Arqui-inimigo, cumpriremos nossa missão. Determinou Lúcifer autoritariamente.


SÉCULO XX DC

         Porém, mesmo que a Igreja Evangélica tenha sido plantada no Brasil, derrubando as portas do inferno e resgatando os pecadores do império das trevas, Satanás e seus anjos continuaram mantendo certo controle sobre os territórios mais isolados. Passaram-se ainda mais de 50 anos até que a primeira iniciativa direta de evangelização dos povos tribais fora tomada e isso voltou a incomodar o mundo espiritual.

Uma organização missionária denominada “SAIN - South America Indian Mission” estabeleceu-se entre o povo Terena no Mato Grosso do Sul em 1913. Em 1925, um pastor batista iniciou trabalho com o povo Krahô no Tocantins. E em 1928, mediante a união das igrejas Presbiteriana do Brasil, Presbiteriana Independente e Metodista foi criada a Missão Caiuá, em Dourados - MS. Além da evangelização e discipulado, fundaram também escolas e hospital, onde os indígenas foram e ainda são socorridos regularmente.

Em 1946, chegou também ao Brasil um grande número de obreiros da NTM – New Tribes Mission, hoje MNTB, Missão Novas Tribos do Brasil – que se espalhou por todo o território brasileiro. No ano de 1956, foi a vez dos linguistas missionários da SIL – Summer Institute of Linguistics (Instituto Linguístico de Verão), hoje Sociedade Internacional de Linguística. Estas duas agências missionárias adotaram a estratégia de fazer discípulos, treinando brasileiros para a expansão da obra; a MNTB mais focada na educação teológica e antropológica, e a SIL em linguística e educação. Com essas iniciativas, brasileiros passaram a fazer parte desse projeto e outras agências foram criadas, ampliando assim a força missionária nas terras mais remotas.

Um novo mover de Deus levou a igreja brasileira a também se envolver com a obra, passando a orar pelos obreiros e pelos povos não alcançados, enviando seus membros para o treinamento transcultural e, quando prontos, ao campo missionário. Ou seja, tornaram-se parceiras de ministério desses obreiros e das agências missionárias, mediante apoio logístico, financeiro e espiritual, sem os quais seria quase impossível o trabalho prosseguir. Com isso, novos territórios foram sendo conquistados, com centenas de igrejas indígenas plantadas de Norte a Sul do país, cumprindo-se a promessa do Senhor Jesus em Mateus 16:18. Sendo, inclusive, organizado o CONPLEI - Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas, em 22 de março de 1991, como entidade representativa da população evangélica indígena no Brasil.

 

 ANOS 1980 E 1990 DC

 Então, no final da década de 1980, Satanás convoca nova reunião de emergência, já prevendo sua iminente derrota, mas tentando ainda manter parte do seu domínio já enfraquecido. Dessa vez, redirecionou sua inquirição para seu representante na esfera política do Brasil.

— Meu príncipe enviado para a Capital Federal! Os guardiões do território nacional não têm resistido à força desses conquistadores de almas. Mas tenho ainda algumas “cartas na manga” e preciso de sua perspicaz audácia política para nos dar um pouco mais de tempo de domínio desta nação. Vociferou Lúcifer, com vaga esperança de vitória.

— Tenho andado por várias partes do mundo e visto como os países já destruíram a maioria de suas florestas e aqui a selva amazônica continua exuberante, gerando cobiça dos países mais desenvolvidos. Envie emissários à Europa, à América do Norte e até mesmo a outros continentes. Precisamos induzi-los a cobrar do Brasil a preservação desta floresta e assim os nativos ali isolados serão também preservados da ação desses mensageiros.

— Mas como fazer isso, meu senhor? Exclamou um dos anjos caídos ali presente.

— Desafie-os a investir recursos em organizações não governamentais, ideologicamente comprometidas com o nosso lema, e oriente-as a fatiar a Amazônia em extensas reservas, principalmente nas regiões de fronteira. E, depois de definidos esses territórios, usando o argumento de autodeterminação dos povos, deverão criar associações indígenas, disfarçadamente, controladas por seus agentes. E, com um pouco do volumoso recurso que receberão do exterior poderão promover reuniões de doutrinação ideológica, oferecendo estadias em hotéis, alimentação e combustível para as viagens. E os que se destacarem ideologicamente e até mesmo alguns “inocentes úteis” poderão ser levados à Brasília e até mesmo a outros países para defenderem a nossa causa.

— E, paralelamente a estas ações, vamos levantar certas autoridades contra esses pregadores, usando o pseudoargumento de preservação cultural desses povos, dificultando ao máximo a sua entrada e permanência nas terras sob nosso domínio. Até porque já estão em curso projetos de expulsão de algumas equipes, onde ainda não conseguiram anunciar plenamente a mensagem do nosso Arqui-inimigo aos nativos.

Mas eis que outro príncipe, ainda mais sagaz teve uma astuciosa ideia, que muito agradou o seu senhor.

— É do conhecimento geral que o contato programado feito pelo órgão tutelar indigenista, desde 1910, tem registrado grande baixa populacional nessas etnias. Então vamos criar uma boa narrativa contra essa estratégia, mesmo sabendo que uma das causas principais dessa desgraça tem sido “a demora em efetivar o contato”. Mas vamos ocultar o fato de que, quando efetivaram esses contatos, os indígenas já estavam contaminados por doenças viróticas, resultado do contato espontâneo com exploradores da floresta e com trabalhadores na abertura de estradas no interior do Brasil. Outros motivos que também devem ser ocultados em nossa narrativa são “a falta de cuidado com a população no pós contato e com introdução de costumes ofensivos à vida e à cultura dos indígenas, tais como o álcool e a prostituição”, como já documentado por alguns pesquisadores (CASTRO, 2005).

— Vamos usar também a Mídia para acusar as missões que fizeram recentemente contato com alguns povos isolados, usando a narrativa que estes provocaram mortes e descaracterização cultural nestas etnias para formação de opinião das diversas autoridades e da população em geral contra eles. E como a Academia tem florescido ideologicamente na defesa da laicidade religiosa, serão muito bem-vindos na formação de novos profissionais, ideologicamente defensores do isolamento dos povos tribais. Dessa forma, conseguiremos deixá-los longe da mensagem contida no famoso “Livro de Capa Preta” que um desses povos chamaram de mo'e ubyk (objeto preto) e pediam que lhes fosse ensinado e desenhado (escrito) na sua língua. Ideia que foi prontamente colocada em execução.

 

SÉCULO XXI DC 

De fato, esse estratagema floresceu a partir do final dos anos 1980, quando as organizações não governamentais, financiadas com recursos da Europa e da América do Norte, foram criadas com foco na preservação da Amazônia. E, com apoio da Mídia e da doutrinação ideológica nas academias, deu-se início à perseguição religiosa aos obreiros entre os indígenas. Assim diversos obreiros foram impedidos de atuar em algumas etnias, mesmo contrariando a vontade do povo e sem nenhum motivo legal para que essa atitude fosse tomada.

E, em nome de preservação étnica, o príncipe da Capital Federal e seus auxiliares levaram a entidade responsável pelas populações indígenas a criar, em 1987, o Departamento de Índios Isolados e editar uma portaria restringindo o contato com os povos ainda isolados no Brasil. E, como muitos grupos ainda não devidamente evangelizados não se enquadravam mais como isolados, criou-se a categoria de Recente Contato, mesmo depois de mais de trinta anos de relacionamento com a sociedade nacional e internacional, restringindo o acesso de missionários a suas aldeias. E, aproveitando a onda ambientalista, criaram as chamadas Frentes de Proteção Etnoambiental, como respaldo para manter essas populações debaixo dos olhos de servidores comprometidos com a pauta do isolamento. E a elas ficaram vinculados todos os focos de presença de povos isolados, com o argumento do “não contato” como forma de preservação étnica.

Mas então, um dos demônios presentes naquela reunião questionou o maioral do império das trevas.

— Seria possível nos fazer saber, ó poderoso senhor, por que tanto te empenhas em impedir que o conhecimento dessa mensagem chegue a esses pequenos grupos de pessoas?

— Não sabes que as terras indígenas no Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste estão sendo invadidas por forças poderosas e que os nativos estão sendo levados a se entregar ao Cristo todos os dias? E que em centenas de aldeias eles se reúnem para adorar o nosso Arqui-inimigo e para lerem seu maldito “Livro de Capa Preta”?

— Sei disso perfeitamente bem. Gritou Satanás com uma mistura de frustração e raiva. E prosseguiu:

— Mas agora escutem bem todos e explicarei por que tenho tanto ciúme das terras remotas! Enquanto todos se inclinavam para ouvi-lo melhor.

— Existem diversas profecias que podem ser resumidas nesta predição. “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.”

E, indignado, mas ainda tentando alimentar esperança, exclamou: — Sei que o fim não virá enquanto todas as nações não tiverem ouvido as ditas boas-novas. E prosseguiu:

— Na atual circunstância, não importa tanto quantos missionários sejam enviados aos povos já evangelizados, nem quantos convertidos sejam obtidos, porque está escrito que, enquanto a mensagem dele não for proclamada nessas etnias isoladas no Brasil e em outras partes de nosso domínio, o Fim não virá.

— Portanto, sede vigilantes e envidai todo esforço para impedir que a mensagem dele chegue a esses povos isolados e a todos que ainda não a ouviram as ditas Boas Novas. Se não guardarmos bem esses últimos redutos, logo virá o fim e nós seremos lançados no lago de fogo e enxofre e bem sabemos que pouco tempo nos resta. E AI DE NÓS QUANDO ISSO ACONTECER! AI DE NÓS! Vociferou furioso o príncipe das trevas.

E, com desesperado furor, também bradaram todos os seus demônios.

 

REFLEXÃO 

Esta analogia reflete bem o que tem acontecido ao longo dos séculos de evangelização do Brasil. Mormente com respeito aos povos isolados e outros ainda mantidos na categoria de recém contatados, mesmo depois de mais de 30 ou 40 anos de relacionamento com a sociedade envolvente. Não é por acaso que as únicas pessoas que têm sido impedidas de atuar nessas terras indígenas são os missionários e os líderes indígenas evangélicos de outras etnias.

Ao mesmo tempo, alguns desses grupos continuam sendo tutelados e seus representantes só saem de suas terras escoltados por agentes do órgão tutor e de representantes das ONGs que atuam nessas terras indígenas. Até mesmo o intercâmbio com membros de outras etnias tem sido cerceado, mesmo que a legislação vigente garanta que os povos indígenas tenham o direito de manter e desenvolver contatos, relações e cooperação, incluindo atividades de caráter espiritual, cultural, político, econômico e social, com seus próprios membros, assim como com outros povos através das fronteiras. (ONU, 2008).

E, para mantê-los distantes do evangelho, grande parte de nossas autoridades e a Mídia em geral alegam falsamente que há uma proibição legal de pregação a essas pessoas, mesmo não havendo nenhuma lei que respalde esse argumento. Muito pelo contrário, o Art. 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos prescreve que:

 

            Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. (ONU, 1948). E a Constituição Federal do Brasil no Art. 5º assegura que:

         Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade

        [...]

      VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política [....] (BRASIL, 1988)

 

Também a Declaração das Nações Unidas sobre Direito dos Povos Indígenas de 2008, preceitua em seu Art. 16,1 que

Os povos indígenas têm o direito de estabelecer seus próprios meios de informação, em seus próprios idiomas, e de ter acesso a todos os demais meios de informação não indígenas, sem qualquer discriminação (ONU, 2008). (grifo nosso)

 

Assim sendo, entende-se que estratégia do não contato com os povos isolados, não só contempla o plano diabólico de adiar a volta de Jesus e o julgamento final, mas também visa diminuir a representação de “todas os povos, tribos, línguas e nação diante do trono do cordeiro”, como registrado em Apocalipse 7:9. E isso está de fato acontecendo, pois alguns dos povos indígenas contatados a pouco tempo, foram encontrados em número tão reduzido a ponto de não mais terem condições de se reproduzirem enquanto etnia. Dentre eles alguns com apenas 4 a 6 pessoas já em idade adulta, dois homens, Awrá e Awré, sobreviventes de uma etnia no Maranhão e o denominado “Índio do Buraco” em Rondônia, como ficou conhecido nos meios de comunicação e que já partiu para a eternidade sem deixar descendência.

Inclusive, fatos históricos e pesquisas feitas por renomados antropólogos confirmam que os povos isolados estão seriamente ameaçados de extinção. Dois antropólogos, que monitoram oito grupos isolados por vários anos na Amazônia, mediante imagem de satélite, confirmaram essa hipótese. Em artigo publicado a pouco tempo em uma revista científica, citado em Opinião e Notícia (2016), consta que seu “estudo comprovou a existência de apenas uma tribo isolada com população aumentada ao longo dos anos, enquanto os outros sete grupos diminuíram.” (WALKER ET AL., 2016). E isso corrobora com estudos de outros pesquisadores os quais apontam que “um grupo isolado com menos de 400 habitantes não tem garantida a sua existência. E com menos de 200 pessoas já estão fadados à extinção. (HEADLAND, 1998).

Diante do exposto, soa-nos aos ouvidos o clamor do Profeta: “Passou a sega, findou o verão e nós ainda não fomos salvos.” (Jeremias 8:20). E igualmente contundente, ouve-se o grito silencioso dos povos ainda não alcançados: “Não vos comove isso a todos vós que passais pelo caminho? (Lamentações 1:12).

Assim sendo, não podemos continuar apegados ao argumento de que “no tempo certo Deus providenciará um meio para que os povos de acesso fechado sejam alcançados”. Muito pelo contrário, precisamos, em obediência e dependência do Senhor, dar passos concretos e ousados para que essas barreiras sejam derrubadas. Pois, como lemos em I Pedro 4:7, “o fim de todas as coisas está próximo” e a oportunidade de conhecerem o evangelho e crerem no Senhor Jesus está passando para muitas dessas etnias.

 

CONCLUSÃO 

Diante dos fatos ilustrados pela alegoria apresentada ao longo deste texto, propõe-se que as lideranças das agências missionárias e os líderes denominacionais desafiem as igrejas a um movimento nacional e internacional de oração pela obra ainda inacabada, rogando ao Senhor, criador e controlador de todo universo que de maneira miraculosa:

 

1.    quebre as barreiras que impedem a presença missionária entre os povos indígenas ainda não evangelizados;

2.    mude a mentalidade de nossas autoridades e de representantes de entidades envolvidas na questão indigenista;

3.    envie mais trabalhadores para a Sua Seara, como o próprio Senhor Jesus desafiou os seus discípulos a orarem;

4.    e desperte a Igreja de Cristo a se levantar como um só povo, indo ao campo, enviando, orando e sustentando os projetos missionários. E nessa relação de parceria, libertando os cativos “do império das trevas para o Reino do Filho do Seu amor” (Colossenses 1:13).

 Pois sabemos que, quando a Igreja de Cristo unida se põe à obra, como aconteceu com os Judeus na reconstrução do Templo em Jerusalém, fato registrado nos livros de Ageu e Esdras, “as portas do inferno não prevalecem” contra o avanço do Reino (Mateus 16:18). E mesmo que os guardiões do império das trevas continuem lutando com todas as suas artimanhas, barrando muitas vezes o caminho, como registrado por nosso irmão Paulo em I Tessalonicense 2:18, o “evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações e então virá o fim” (Mateus 24:14). E assim, representantes de todas as nações, tribos, povos e línguas estarão diante do trono e diante do Cordeiro, entoando o maravilhoso cântico: “Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação.” (Apocalipse 7:9). E para que isso aconteça, basta que cada um de nós diga ao Senhor como disse o Profeta: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (Isaías 6:8).

 


Para melhor entender esta alegoria, leia também “ESPERANDO A VOLTA DO CRIADOR – Expectativa messiânica de um povo indígena ‘isolado’ na Amazônia”.  


📖 Formato físico - https://loja.uiclap.com/titulo/ua87956

📖 Formato e-book - https://a.co/d/5iwyndg

 

 

REFERÊNCIAS

 BRASIL. Constituição Federal do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

 CASTRO, Onésimo M. Índios isolados: proteção, exclusão ou dominação. In: LIDÓRIO, R. (Org.). Índios do Brasil; avaliando a missão da Igreja. Viçosa: 2002, p. 217-232.Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-sociedade/6951201

 DUARTE, Joana. Índios isolados: é hora de rever a política do não contato? Opinião e Notícia, 2016.  Disponível em: http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/indios-isolados-e-hora-de-rever-política-do-nao-contato/. Acesso em: 19/05/2020.

 HEADLAND, Thomas N. Five biblio references on the viability of small populations, E. U. A., 1998

 Léry, Jean. Viagem à Terra do Brasil. 1961. Disponível em: ttps://www.academia.edu/42779223/VIAGEM_%C3%80_TERRA_DO_BRASIL

 ONU. Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Rio de Janeiro: UNIC/ Rio/ 023 - Mar. 2008.

 ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assembleia Geral das Nações Unidas, 1948.

 SCHALKWIJK, Francisco L. Índios Evangélicos no Brasil Holandês. Fides Reformata, 1997. Disponível em: https://cpaj.mackenzie.br/fileadmin/user_upload/3_Indios_Evangelicos_no_Brasil_Holandes_Frans_Schalkwijk.pdf

 SMITH, Osvald. O Clamor do Mundo. Editora Vida, 14ª Edição, 1994. Disponível em: https://www.scribd.com/document/649473699/O-Clamor-do-Mundo-Oswald-Smith-14-edicao-ed-Vida

 WALKER Robert S, KESLER, Dylan C. HILL Kim R. As populações indígenas isoladas estão caminhando para a extinção? PLOS.ONE, 2016. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0150987



[1]Membro da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais, atuando com povos indígenas na região de Santarém – Pará, desde 1980. Casado com Mariana Barbosa de Castro e pai de Celinda e Calebe. Formação teológica e missiologia transcultural e linguística; graduado em Letras e Artes e pós-graduado em Antropologia Intercultural e em Gestão Escolar. E-mail: onesimo.mariana@gmail.com

sábado, 9 de março de 2019

Funai inicia expedição para contatar indígenas isolados


7 MAR2019


Com maior expedição do tipo em mais de 20 anos, órgão pretende proteger grupo que vive isolado na Amazônia, evitando confronto entre Korubo e Matis. Migração fez com que etnias ocupassem territórios muito próximos.A Fundação Nacional do Índio (Funai) iniciou nesta quinta-feira (07/03) sua maior expedição dos últimos 20 anos para contatar indígenas isolados e evitar confrontos entre etnias que vivem no vale do Javari, na Amazônia.



Imagem de fevereiro mostra região ocupada pelos Korubo

Foto: DW / Deutsche Well


A expedição tem como objetivo evitar um conflito iminente entre indígenas das etnias Korubo, em situação de isolamento voluntário, e Mati, que mantêm contato com outros grupos desde a década de 1970.

Ambas as etnias vivem na Terra Indígena Vale do Javari, situada no extremo oeste do estado do Amazonas, na fronteira com o Peru, e uma das maiores terras indígenas delimitadas no país, com mais de 8 milhões de hectares. O território concentra provavelmente o maior número de grupos indígenas isolados do mundo, com dez confirmados e três em estudo.

As tensões entre os povos na região aumentaram nos últimos anos. Segundo o coordenador de Política de Proteção e Localização de Índios Isolados da Funai, Marco Aurélio Milken Tosta, o potencial de conflito se deve ao fato de as duas etnias terem se aproximado fisicamente e ocuparem "os territórios alheios".

Os Matis contataram os Korubo em 2013, inicialmente de maneira amistosa. Um ano depois, eles instalaram roças próximas à área habitada pelos Korubo. A situação se agravou em 2015, quando um grupo de 21 indígenas Korubo rompeu seu isolamento depois de ser abordado pelos Matis enquanto atravessavam o rio Branco, resultando em mortes.

Assim que tomou conhecimento do contato, a Funai afirma ter atuado para minimizar seus impactos, oferecendo assistência médica devido à exposição a doenças contra as quais os Korubo ainda não tinham imunidade.

Depois do incidente, alguns Korubo migraram para outra região e relataram que os que ficaram acreditam erroneamente que seus parentes foram mortos por Matis. Em 2016, os Matis chegaram a invadir uma base da Funai para pedir uma operação do órgão para solucionar o impasse e evitar possíveis confrontos. Segundo o órgão, esse grupo indígena acredita que os Korubo isolados estão planejando uma vingança.

"Já houve conflito e morte. A proximidade de 20 quilômetros entre eles é um cenário catastrófico. Se houver um novo confronto com os Matis, os Korubo responderão de maneira tradicional, com violência", afirmou o indigenista Bruno Pereira, que coordena a expedição.

Os Korubo que deixaram a região, além disso, querem rever seus parentes a fim de "retomar os laços", de acordo com Tosta. Alguns deles participam da expedição e serão responsáveis por fazer o primeiro contato com o grupo isolado.

"Os Korubo não sabem o que aconteceu com o grupo. É uma questão complicada. Os que estão na selva não têm informação, e a reação é muito difícil de dimensionar. Como pode estar a cabeça desses indígenas que não sabem o que aconteceu? Eles provavelmente consideram que eles foram assassinados, essa é a minha leitura", acrescentou Tosta.

Para Pereira, o pior cenário seria se os Korubo iniciassem uma luta com os visitantes. A Funai espera, porém, que eles aceitem os parentes e decidam parar de se aproximar da área habitada pelos Matis.

Planejada durante o governo Michel Temer, a chamada Expedição de Proteção e Monitoramento de Indígenas Isolados Korubo do Rio Coari contará com o apoio da Polícia Federal, da Secretaria de Segurança Pública do estado do Amazonas e do Exército.

A equipe buscará um grupo de ao menos 22 indígenas Korubo que vivem isolados. A última expedição da Funai desse porte foi realizada em 1996 nesta mesma região.

Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/funai-inicia-expedicao-para-contatar-indigenas-isolados,3681ee614d69f31b0496c1cc083364b6nasc52wd.html 

domingo, 22 de abril de 2018

Índios recebem dinheiro do governo para protestar contra o governo

https://www.oantagonista.com/brasil/indios-recebem-dinheiro-do-governo-para-protestar-contra-o-governo/ 20/04/2018

O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), resolveu bancar a viagem dos índios que, na próxima semana, estarão em Brasília para o Acampamento Terra Livre.


O tal acampamento é organizado por grupos de esquerda, ONGs internacionais e tem também a participação de partidos como o PSOL. O protesto, claro, será contra o governo federal. Michel Temer decidiu demitir nesta semana o presidente da Funai, Franklimberg Ribeiro de Freitas.


Em um áudio obtido pelo site, uma liderança indígena diz que “vamos ocupar palácio, protestar contra ruralista e contra mudança na Funai”.


“A Sesai vai ajudar. Vai mandar passagem e diária”, acrescenta o índio.


A Sesai é responsável por coordenar e executar a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígena. O atual secretário, Marco Antônio Toccolini, disparou um convite (veja abaixo) convocando para o ato em Brasília.


Apuramos que os gastos com essas viagens podem chegar a meio milhão de reais (veja uma solicitação abaixo).

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ATUALIZAÇÃO: O Ministério da Saúde enviou a O Antagonista a seguinte nota de esclarecimento:


1- A presença de presidentes dos 34 Conselhos Distritais de Saúde Indígena (Condisi) e representantes de algumas associações indígenas em Brasília, entre os dias 18 e 27, diz respeito à convocação extraordinária do Fórum de Presidentes de Condisi (FPCondisi). Com a finalidade de otimizar recursos, foram acrescidos à reunião extraordinária: a participação dos presidentes no processo de Chamamento Público das conveniadas; as reuniões dos Grupos de Trabalho da revisão da Política Nacional de Atenção aos Povos Indígenas e do Modelo de Contratação na Saúde Indígena, além da reunião com a Comissão Intersetorial de saúde Indígena do Conselho Nacional de Saúde para tratar da 6º Conferência Nacional de Saúde Indígena;


2- De acordo com o Regimento Interno do FPCondisi, são realizadas quatro reuniões anuais, além das extraordinárias; a convocação extraordinária na semana de realização do Acampamento Terra Livre é uma demanda do Fórum, por entenderem se tratar de um espaço legítimo, de participação democrática e construtiva do Movimento Indígena Brasileiro. Assim, são discutidas pautas específicas da saúde dos povos indígenas durante toda a programação do evento, não sendo possível excluir a instância máxima do controle social da pauta; o Ministério da Saúde apoia a participação de representantes indígenas nessas esferas de discussão por acreditar que esta participação reforça os debates em torno da construção de um modelo de assistência cada vez melhor às comunidades tradicionais;


Vale ainda destacar que apoiar, e aqui entende-se também como custear, as ações de controle social na saúde indígena, é uma das missões do Ministério da Saúde, prevista na PNAPSI.